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Como organismo vivo, o vinho precisa de descansar, de passar alguns dias sossegado, depois de ter saído da loja. A minha regra tem sido: pelo menos uma semana de descanso antes da prova. Ou mesmo mais...
Em tempos que já lá vão, cedi algumas vezes à tentação de, trazendo o vinho para casa, o ir beber no próprio dia. E fui percebendo que o conteúdo da garrafa recém-chegada era diferente se ficasse à espera, a descansar. E se depois fosse aberto com algumas horas de antecedência. Com sorte, até, poderá (se ficar uma parte para o dia seguinte) melhorar ainda mais.
O vinho é um produto de paciência. Da paciência de esperar pela vindima, da paciência à vinificação, da paciência do estágio, da paciência de não o lançar logo para o mercado e de o deixar esperar alguns anos.
A vida em garrafa pode ser mais ou menos longa. É um ambiente protegido. Quando a retiramos do seu sítio, o seu conteúdo tende a ser chocalhado. A estrututa interna ficou abalada. A situação só se restabelece com descanso, com o aolhimento da garrafa num local tranquilo, fresco e pouco iluminado.
A paciência é ainda necessária quando, finalmente, pegamos na garrafa e a abrimos. Tranquilamente, pacientemente. Abrindo-a, deixamos o vinho tomar contacto com o ar e libertar uma parte do seus aromas. Precisamos, depois, do recipiente para onde ele vai. Para um decantadora? Já para o copo?
Um decantador não é um objeto de uso obrigatório, embora pareça. A sua vantagem é obrigar o vinho a um contacto mais directo com o ar, deixando lentamente abrir (e respirar) os elementos que lhe dão vida e os seus efeitos farão melhor aos vinhos mais complexos e de maior idade.
Mas, sem decantador e sem a certeza de que o vinho será todo bebido na ocasião (um decantador não é a melhor solução para guardar vinho de um dia para o outro, por exempo), a alternativa são os copos.
A função essencial de deixar respirar e de esperar para o consumir pode ser cumprida com copos de maior dimensão, por exemplo, com os habitualmente designados por "gran vin" e que têm capacidade que não fique abaixo dos 35 centilitros. Com pé, um pouco mais largos na "cintura" e de vidro (ou de cristal).
O lento despejar do conteúdo da garrafa para o copo, admirando a sua cor e o seu aroma, imaginando como será o seu sabor, pode ser um dos momentos mais excitantes no ritual da apreciação do vinho. E, em boa companhia, cria o ambiente de tranquilidade que é conveniente para falar de tudo e de nada, das coisas da vida... e do vinho que se vai beber a seguir.
Fonte: Pedro Garcia Rosado (Portugal Digital)