É uma mulher, transmontana de nascença (Bragança), mas devia ser um homem. A meio da década passada, Bento dos Santos andava à procura de uma pessoa que assumisse a enologia e a viticultura da quinta e tinha na cabeça a imagem de um homem, vá-se lá saber porquê. Em conversa com um professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA), deu-lhe conta do profissional que precisava e o professor respondeu-lhe. "Conheço essa pessoa, só que é uma mulher".
"O engenheiro Bento dos Santos quis conhecer-me, convidou-me a visitar a quinta, gostei imenso dele e acho que ele também gostou de mim e comecei a trabalhar", recorda Graça Gonçalves. Formada no ISA em Engenharia Agro-Industrial, Graça frequentou o primeiro mestrado em viticultura e enologia daquele instituto. Antes, já participara numa investigação em polifenóis na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Da fileira agro-industrial, "o vinho era o que pedia mais" dela, explica.
Durante o mestrado, trabalhou em microbiologia de contaminação de vinhos com o professor e enólogo Virgílio Loureiro e participou no desenvolvimento de um meio de cultura diferencial para a detecção de leveduras do género Dekkera/ Brettanomyces, o qual tem sido comercializado um pouco por todo o mundo.
A primeira experiência como enóloga deu-se em 1994, com a casta Arinto, em Bucelas. Trabalhou depois durante alguns meses na Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos, antes de entrar como professora assistente na Escola Superior Agrária de Santarém, onde leccionou tecnologia de vinho e enologia durante oito anos. Nesse período, foi responsável pela adega da escola e manteve-se sempre ligada à produção. "Nós fazíamos vinhos para alguns produtores e dávamos consultoria a outros", lembra.
Quando estava a iniciar o doutoramento, surgiu o convite da Quinta do Monte d'Oiro e Graça Gonçalves não quis perder a oportunidade de trabalhar para uma pessoa de quem era admiradora e cujos vinhos já apreciava. "Era quase um sonho", confessa.
Nos primeiros tempos, Graça ainda contou com o apoio de Luís Carvalho e do filho, Tiago Carvalho, mas, a partir de 2006, passou a assumir sozinha a enologia da quinta, embora com o apoio pontual de Grégory Viennois, director técnico da Maison M. Chapoutier. Um dos grandes vinhos da quinta, o tinto exaequo, é, de resto, uma parceria entre Bento dos Santos e Michel Chapoutier, uma das estrelas da enologia francesa.
Mas o vinho que Graça Gonçalves mais gosta, pelo gozo que lhe dá a sua elaboaração, é o branco Madrigal, feito de Viognier. "É um vinho muito difícil de fazer. Num tinto é mais fácil fazer a pontaria. O vinho sofreu algumas mudanças e julgo que agora está melhor", diz.